vida minha vida, olha o que é que fiz.

Não é a quarta feira que me vem ao caso hoje porque hoje já é sexta feira e nada mais disso interessa.
Um amigo diz que precisa estar sentindo alguma coisa pra ter inspiraçao pra escrever, pois é, hoje, eu concordo com ele. Minha vontade de escrever está fervilhando e tudo isso por que?
Porque eu sinto.
Eu sinto muito pelo meu amigo que morreu, sinto muito pelo meu avô que me faz tanta falta, sinto muito pelo amigo que se matou, pelas pessoas que morrem de fome, eu sinto muito por quem morreu cedo e não pôde aproveitar tanto a vida, sinto muito por quem morreu tarde e não conseguiu fazer tudo o que queria, sinto muito por quem se acaba em drôgas e alcool pq Jesus nao gosta! (aaain, eu n resisti) Mas de verdade, eu sinto muito pelas famílias dessas pessoas que têm que ficar aguentando esse tipo de coisa por causa de uns filhos idiotas que não pensam em mais nada além de em si próprios e em continuar esse ciclo de auto-destruiçao, sem se importar com quem realmente se preocupa com eles.
Voltando ao meu umbigo, eu sinto muito... as pessoas queridas que se vão fazem falta, fica um vazio inexplicável no lugar, um gosto amargo de não poder fazer nada pra trazer a pessoa de volta. Fica aquele sentimento inefável que todo mundo sente e ninguem precisa explicar, aquela angústia de um soco no estômago e a incapacidade de reagir... mas a vida é assim e todo mundo, um dia, vai morrer, inclusive eu! (:O se eu não contasse, ninguem ia saber ne? eee Mariana, sua estraga prazeres...)
Eu também sinto saudades do pessoal de Floripa, sinto saudades de morar lá, da chuva, da praia, do vento na Beira-mar, da caminhada no trapiche, das dunas, do sotaque cantado mais lindo e delicioso de ouvir que eu conheço...
Eu sinto uma coisa esquisita, um vazio estranho inerente a uma outra saudade que eu já tinha previsto quanto a conhecer novos amigos e depois ter que ir embora deles, uma coisa que me parecia já, desde antes, tão familiar porque eu já esperava que fosse ser assim. Eu sinto vontade de a qualquer esquina que eu vire, encontrar com algum deles e poder sair pra dar risada a toa e viver a vida do jeito que a gente quiser.
Eu sinto uma saudade que fica maior ainda a cada dia que passa, eu sinto tanta falta de tanta gente que eu nem lembro mais e de tanta gente que nem lembra mais de mim. Eu sinto falta de tantas amizades que um dia foram muito especiais e infelizmente, hoje são lembranças... Eu sinto falta de quem eu costumava ver todos os dias e hoje, há alguns encontros em um ou outro final de semana e sempre que eu começo a sair demais com alguem e pego carinho por essa pessoa, eu já sei que vai acabar logo, porque sempre acaba.
Eu vou sentir falta das amigas da faculdade e só de pensar na ausência delas nos meus dias, já me dá um aperto. Eu sinto que a gente vai ficar longe e por maiores que sejam as tentativas da reaproximação, vão aparecer compromissos, empregos, namorados, maridos, filhos e essa época táo deliciosa que dá pra se ver todos os dias, vai passar...
Eu já sinto falta de quem vai embora daqui alguns dias e por mais que eu queira aproveitar, esses dias vão passar tão rápido quanto areia escorrendo pelos dedos.
Eu sinto um certo receio pelo amanhã que vai chegar com tudo, eu sinto medo pelo futuro-astronave (que tentamos pilotar) que vai me levar embora, me empurrar, não importa o que eu esteja fazendo ou o que eu queira fazer, muito menos se eu vou estar preparada (não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar). Eu sinto esse medo por não saber ainda o que eu quero e porque eu acho que não vou conseguir descobrir a tempo de agradar a todas as pessoas que esperam tanto de mim.
Ainda, eu sinto um medo de decepcionar, de certo porque eu sempre fui atras de tanta coisa pra não deixar ninguem 'desgostoso' e agora eu me sinto tão cansada pra continuar lutando pelas pessoas e sinto medo por pensar tanto nos olhos que um dia eu vi quando alguém se desapontou comigo já que eu não quero nunca mais ter que me deparar pra um olhar desses.
Eu tenho um aperto singular e sem explicação dentro de mim, uma vontade audaz de estar em todos os lugares, com todas as pessoas que eu sinto tanta falta e, ao mesmo tempo, sumir e deixar que ninguém nunca mais lembre de mim.
Por fim, depois de tantas perdas, vitórias, encontros e desencontros, nesses míseros 21 anos de vida, o que eu sei, por sentir tanto e sempre, é que me interessa continuar sentindo, vendo, gostando, rindo, amando e levar todas essas emoções comigo pra que 'assim, quando mais tarde me procure, quem sabe a morte, angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama, /eu possa me dizer do amor (que tive): que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.'


Vida
Chico Buarque

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz